1. Ocupação antrópica e problemas de ordenamento:
    1.1 Bacias hidrográficas

DINÂMICA FLUVIAL

As catástrofes naturais fazem parte de um planeta dinâmico. O Homem, conhecendo origens dos fenómenos,  medidas preventivas a fim de minimizar os estragos e evitar, em muitos casos a morte.

As situações de risco geológico associados à morfologia dos terrenos, designam-se por riscos geomorfológicos e estão associados a fenómenos de erosão: bacias hidrográficas: erosão fluvial, cheias e exploração de inertes (extração de areias); zonas costeiras: erosão costeira; zonas de vertente: movimentos de massa e erosão de vertentes.

Na verdade, com o crescimento das populações e a ocupação de determinados locais, naturalmente perigosos, a própria irresponsabilidade do ser humano, provoca no ambiente um desequilíbrio e coloca o Homem em risco (probabilidade de um acontecimento perigoso ocorrer num determinado local e num certo período de tempo, com prejuízo humano).

É necessário que definam regras de ordenamento de território a fim de evitar o agravamento dos riscos naturais (vulcões, tsunamis, sismos, deslizamento de terras, inundações, tufões, secas, tornados, pragas, etc.), e que este, seja uma tradução de políticas económicas, social, cultural e ecológica da sociedade. Entende-se por ordenamento do território um processo de organização do espaço biofísico de acordo com as capacidades desse espaço.

Há necessidade, por parte das autoridades e no âmbito do ordenamento do território e proteção civil, e tendo em conta o conhecimento dos especialistas, nomeadamente geólogos, elaborar planos de ocupação do solo de forma a assegurar o bem estar das populações.

Nas cheias: Os espaços da área do leito de inundação devem estar livres de construção, com espaços verdes juntos ao rio. As zonas limítrofes do leito de inundação devem ter pouca construção e devem estar prevenidas com estruturas adaptadas às cheias, como a utilização de pilares.

Bacias hidrográficas

Os leitos dos rios, desde cedo na história da humanidade, foram os locais preferenciais de ocupação humana.

A água que fornecem (uso doméstico, comercial e industrial), a fonte de alimento quer ao nível de peixe, quer ao nível de solos férteis por deposição de sedimentos nas margens e pelo facto de serem vias de comunicação, fez com que o Homem se fixasse nos seus leitos. Viver junto aos leitos acarreta riscos, por vezes podem ocorrer cheias e inundações que podem  ser catastróficas e originar destruição de estruturas e mortes.

O papel do geólogo é de fundamental importância no levantamento dos riscos e na prevenção das populações. Deve intervir: nos estudos de previsão e prevenção de catástrofes geológicas; nos estudos do impacte ambiental; na prospeção e exploração de matérias primas; na construção de obras de engenharia de grande envergadura (estradas, pontes e barragens); estudo de medidas para proteção costeira e contribuir com os seus conhecimentos para o ordenamento do território.

 

Conceitos referentes aos rios

A bacia hidrográfica é um área de território drenada por uma rede hidrográfica, por sua vez a rede hidrográfica é o conjunto hierárquico  de todos os cursos de água (regatos, ribeiros, ribeira e rio) que se ligam a um rio principal. Os cursos de água estão organizados hierarquicamente em que os de menor dimensão escoam a água para os de maior dimensão, por ação da gravidade, até desaguarem no mar.

http://geoconceicao.blogspot.pt/2011_08_01_archive.html

Bacias de Portugal (dados) http://snirh.pt/index.php?idMain=1&idItem=1.5&idISubtem=ANUARIO_BACIA&bacCOD=17&novoAno=2004

Rede hidrográfica de Portugal http://snirh.pt/snirh/_atlasagua/galeria/mapasweb/pt/aa1001.pdf

Leito do rio, é o espaço que ocupam as águas do rio. O leito do rio não é apenas o canal fluvial que habitualmente vemos quando observamos o rio, esse é o leito ordinário, mas em época de cheias, o rio sobe e ocupa uma determinada área, chama-se leito de cheia. Temos ainda o leito de estiagem que corresponde à zona mais profunda do canal fluvial (mais escavado), ocupada por menor quantidade de água (no verão quando o rio tem menos água, esta circula no leito de estiagem).

http://www.ebah.com.br/content/ABAAAAnd4AJ/aula-00-principais-estruturas-hidraulicas?part=2

 

A ação das águas em movimento contínuo provoca a erosão no substrato por onde a água passa e subsequente rebaixamento da superfície, tanto verticalmente, aprofundando o leito, como horizontalmente, alargando as margens. Esta erosão é provocada pela água e pela carga sólida (detritos ou sedimentos) que o rio transporta.

O rio desempenha um triplo papel geológico: erosão e meteorização, transporte e sedimentação dos materiais rochosos.

 A água desloca os sedimentos originados pela erosão, que são transportados pela ação da gravidade e movimento das águas, das zonas mais altas para as mais baixas, e se o transporte acaba, os sedimentos vão se depositando nas margens e até chegar ao mar. A ação de transporte, a velocidade das águas, vais diminuindo à medida que se caminha para jusante, assim, os materiais mais pesados e de maiores dimensões vão ficando para montante e os de menores dimensões e mais leves para a foz.

 

adaptado de http://www.prof2000.pt/users/elisabethm/geo8/rios2.htm

Com a evolução do rio, este tende a ter um perfil longitudinal que tende para a regularização, diminuindo o declive e alargando as margens. Junto à nascente (MONTANTE), os vales são mais fechados e à medida que se desloca para a foz (JUSANTE), as margens são mais largas e mais aplanadas e os vales mais abertos. Os rios mais recentes têm vales encaixados e os mais antigos os vales são mais largos.

 

http://www.prof2000.pt/users/elisabethm/geo8/rios2.htm

Junto à foz, nos rios mais evoluídos, formam-se planícies que resultam da acumulação dos sedimentos trazidos pelo curso do rio que se designam por PLANÍCIES DE INUNDAÇÃO e que correspondem às zonas que ficam inundadas em época de cheias e época em que há grande deposição de sedimentos, chamados de aluviões. Tem-se assim o leito maior (leito de cheia), que corresponde ao leito ocupado em época de cheia e leito menor ou ordinário, o leito normal do rio e ainda o leito de estiagem que corresponde à época de seca.

Fotografia aérea de aluviões arborizados. As ilhas são chamadas de mouchões (aluviões, rodeados pela água).

http://geografismos-com.blogspot.pt/2008/05/fr-12.html

 

Não há dois rios iguais! O comportamento do rio depende do seu regime hidrológico que por sua vez depende de: bacia hidrológica; tipos de rochas e relevo; clima; cobertura vegetal e ocupação humana.

 

AS CHEIAS- RISCO GEOLÓGICO

Sempre que um rio transborda o seu leito normal diz-se que há um cheia. As cheias originam inundações, mas nem todas as inundações são causadas por cheias (uma maré viva, um tsunami, pode fazer com que haja inundações nas planícies de inundação e a causa não foi uma cheia).

Causas naturais das cheias

As cheias estão ligadas aos factores climáticos, às épocas de chuva em que a precipitação pode ser muito intensa. Se a bacia for pequena e se a precipitação for muito intensa pode ocorrer uma cheia rápida, muito perigosa porque apanha as populações desprevenidas, se as chuvas forem intensas e prolongadas em bacias grandes, as cheias são progressivas e correspondem ao aumento progressivo do caudal do rio.

Para além dos factores climáticos (degelo, chuvas intensas), as cheias podem também ser causadas pela elevação do nível do mar, por materiais transportados pelos rios que podem bloquear troços de rios e por desmoronamentos das margens dos rios.

A ação do homem

O Homem com a sua ocupação junto aos leitos, pode ser causa (não natural) das cheias. Com a impermeabilização dos solos, com a construção de obras de engenharia, como as barragens, com a destruição da cobertura vegetal,  não permite que a água se infiltre e ela é obrigada a escorrer superficialmente e os riscos de cheia aumentam.

Pelo facto de o espaço de tempo entre duas cheias ser muito grande (período de retorno), as populações perdem a "memória e continuam imprudentemente a ocupar os espaços que pertencem naturalmente ao leito de inundação, aleado a isto, à própria ajuda económica que as pessoas afectadas têm dos governos, não ajuda a que as pessoas saiam destes lugares, levando, por vezes a arriscar a própria vida, e esta não tem preço.

Apesar de todos os riscos inerentes a uma população, as cheias podem ter alguns benefícios, nomeadamente a deposição de sedimentos em alturas de cheias, os aluviões, fertilizam os solos; o subsolo fica mais rico em água havendo um reabastecimento das reservas hídricas subterrâneas; com a velocidade da água que escoa para o mar, há um encaminhamento das areias para as praias o que faz com que haja um equilíbrio entre a erosão costeira e a deposição destes sedimentos, mantendo-se assim a área costeira; e a chegada de fontes de matéria orgânica que irá servir toda a diversidade de seres marinhos.

Zonas de inundação em Portugal continental

http://www.aprh.pt/congressoagua98/files/com/004.pdf

 

Medidas preventivas
  "A ação preventiva constitui a estratégia mais eficaz no combate a este tipo de situações extremas, dadas as suas graves consequências. Desde logo, a identificação e caracterização do risco de cheia no âmbito da elaboração e acompanhamento dos planos de ordenamento do território, complementada com a previsão de risco, que possibilita a antecipação de ações de mitigação, e a monitorização, que permite detetar e conhecer em cada instante o grau de gravidade da situação.

As inundações por cheia afetam sobretudo as bacias dos rios Douro, Minho, Lima, Cavado, Ave, Leça, Mondego, Vouga, Tejo, Sado, Guadiana, Arade e Gilão. Norte do País, devido à existência de zonas montanhosas, os vales onde correm os cursos de água são abruptos, pelo que as inundações têm ocorrências localizadas. O rio Douro origina, nalguns troços, grandes cheias cíclicas, com elevado impacte no tecido socioeconómico das zonas ribeirinhas. Localidades como o Porto, Vila Nova de Gaia e Peso da Régua, no rio Douro, bem como Chaves e Amarante, no rio Tâmega, são frequentemente assoladas."

Proteção Civil

http://www.proteccaocivil.pt/newsletter/PROCIV_web%20OUTUBRO.pdf

 

Principais cheias ocorridas em Portugal

1909 dezembro, Douro
1948 janeiro, continente
1962 janeiro, norte e centro
1967 novembro, Tejo
1978 fevereiro, Tejo e Sado
1979 fevereiro, Tejo
1983 novembro, Tejo e zona de Cascais
1989 dezembro, Tejo e Douro
1997 novembro Baixo Alentejo
2000/01 dezembro a março, Douro e Tejo
2001 janeiro, Mondego
2010 fevereiro, Madeira
 

http://www.jn.pt/PaginaInicial/Sociedade/Interior.aspx?content_id=3140579

 

Com a ocupação desenfreada das populações nas bacias hidrográficas, com a impermeabilização dos solos nas construções e com a desflorestação das vertentes, a água e os sedimentos escorrem com mais facilidade para os leitos dos rios, arrastando partículas sólidas que vão assorear os rios e água dos leitos é obrigada a transbordar.

Na tentativa de combater as inundações o homem tem criado estruturas de forma a armazenar a água em épocas de chuva reduzindo os caudais dos rios a jusante. Esta água armazenada poderá será utilizada mais tarde em épocas de seca, mantendo os caudais dos rios acima do natural. Destas estruturas destacam-se as barragens, os diques e os canais de derivação.

Barragens

Barragem do castelo do bode - Albufeira a montante

http://cnpgb.inag.pt/gr_barragens/gbportugal/CastelodoBode.htm

 

Vantagens e desvantagens das barragens:

A geração de electricidade
Algum controle de algumas inundações
O fornecimento de água potável/irrigação de campos agrícolas
Recreação náutica/turismo
 
  A Comissão Mundial de Barragens (fundada em 1998)clarifica que as grandes barragens podem provocam:

A destruição de florestas e habitats selvagens que levam ao desaparecimento de espécies
A degradação das áreas a montante, devido à inundação da área do reservatório
A possibilidade de redução da biodiversidade aquática
Eliminação da vegetação nativa
Alteração da fauna e flora regionais
Problemas na saúde pública
Alterações climatéricas: Através de estudos efectuados em algumas barragens, verificou-se a emissão de gases que contribuem para o efeito de estufa, como ocorre com os lagos naturais, devido à decomposição de vegetação.

Inundações por assoreamento dos rios

As albufeiras retêm a maior parte dos sedimentos que supostamente iriam ser distribuídos ao longo do perfil do rio até chegarem ao mar. Na zona a montante da barragem é frequente a extração de inertes (exploração dos sedimentos), utilizado na construção.

Um negócio fácil e muito rentável mas com graves riscos nas construções do próprio homem, pois a extração irracional pode provocar graves desequilíbrios, como sejam a alteração das correntes, o desassoreamento do rio e a consequente falta de areias que vão ser transportadas para a foz e daí para as praias, contribuindo também para a erosão costeira, redução de biodiversidade nos estuários e perda de estabilidade nas obras de engenharia ligadas aos rios, nomeadamente barragens que por acumulação de sedimentos na albufeira, tem uma longevidade máxima que ronda os 100 anos (o excesso de carga sólida pode fazer com que a barragem rompem), e pontes.

 

A antiga Ponte Hintze Ribeiro caiu a 4 de Março de 2001, provocando a morte de 59 pessoas, que seguiam a bordo de um autocarro e dois veículos particulares.
 

http://noticias.sapo.pt/nacional/artigo/familiares-das-vitimas-da-queda-_3438.html

http://www.tvi24.iol.pt/sociedade/entre-os-rios/1237106-4071.html

http://www.aprh.pt/congressoagua98/files/com/004.pdf